Laços

 Laço que não se aperta, desata; e diga-se de passagem nós nunca tivemos um nó dos mais fortes. Eu até poderia perder tempo citando as centenas de erros que engatilharam o nosso adeus, mas não vale a pena. Me desarmo aqui. Foram muitas horas exaustivas, muitos planos, poucos investimentos, nenhum amor. Acho que não deveríamos durar tanto mesmo, ainda que as noites durassem mais que um dia inteiro, tudo não passou de técnica, daquelas que você domina como ninguém. Então, peço que desocupe o meu coração e os dois metros quadrados à mais que te dei dentro dele. Chega uma hora que a moradia de uns tem que ser desocupada para que seja bem cuidada por outros. Faça o que for preciso com discrição e objetividade de forma a não deixar se quer um vestígio seu. Não quero sentir o seu perfume, nem te rever nas dezenas de porta retratos dispostos sobre a estante da sala de jantar. Nosso tempo acabou, juntos os ponteiros do relógio não se adiantam mais. Eu quero que meu coração tenha um ambiente de ar meio rarefeito, meio vapor, bem aconchegante e hospitaleiro. Desta vez eu aprendi, não vou mais me cercar de expectativas, quem bater à minha porta terá que me apresentar seus próprios sonhos. Adquiri um olhar clínico. Sarei do meu daltonismo itinerante. Chega de viajar por lugares que jamais se tornarão realidade. Agora o que é cinza morre cinza e o que vier repleto de cores encontrará uma tela em branco, novinha, perfeita para iniciar os primeiros traços de um grande amor.