Se o contorno do lápis sobre o papel não arruma essa solidão imatura. Nem esse par de asas amassadas. Se meu verso é fogo é piada é sombra. Se as latas de lixo refletem luz mais que os olhos alheios. Se eu sou boba o bastante pra não ver o desenho traçado sobre minhas costas. Se eu sou boba o bastante para enxergar brilho onde não existe. E não ver brilho onde talvez exista. Escrever se as malditas letras não aliviam um centímetro de dor. Nem falam que querem me abraçar quando um sorriso faz presente ou simplesmente para dizer que sou especial (mesmo não sendo). Escrever para ingratos lerem e se perguntarem o que uma jovem saudável, feliz e bonita quer com isso de escrever. “Ela quer chamar atenção”.“Ela é imatura”. Escrever se o lápis não te compreende. Se o ar te sufoca. Se brasileiro lê pouco. Se a Literatura é obrigação, se a leitura não é mais prazer. Escrever pra que?
Se escrever tá foda pra caralho, se ouço pequenos sussurros de Drummond na estante. Se a poesia ás vezes adormece. Se infelizmente as pessoas não se cativam. Mas todas querem ser únicas no mundo. Únicas no mundo.
Porém há uma coisa e mim desenhada sobre minhas costas atravessando meu peito. E não são minhas asas. Eu menti para vocês. Eu nunca tive asas, talvez nunca tenha. Mas essa coisa, alimenta-se da pouca esperança e fogo, essa coisa cresce. Essa coisa me consome. Essa coisa que não tem nome. Essa coisa, sei lá que diabos é essa coisa. Se é boa, mau, se um dia vai me devorar por inteira. Se um dia vai me consumir por inteira. E dentro de nós há uma coisa que não tem nome. Essa coisa é o que somos. O que sou?
O contorno do lápis sobre o papel não arruma essa solidão experiente. Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Mas não colocarei pedrinhas sobre um casaco e irei me afogar de encontro à morte.
Eu escreverei.
Escrever para que a loucura sadia seja. Para que ao menos uma pessoa leia e entenda. E compreenda. E não veja beleza. E não procure rimas. Ou que veja beleza, mas que principalmente entenda. Porque se escrever com uma loucura sadia faz com que o lápis arrume quase metade da solidão experiente. E isso já é quase o bastante. Es-cre-ver. Para fortalecer os músculos do coração. Para iluminar ou neurônios. Para transbordar alguma coisa. Alguma coisa que provoque o riso, o choro. Para despertar a poesia. Para delimitar os valores. Para não ter pesadelos durante a noite. Para não ser a luz refletida na lata do lixo. Para ser.....
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Me fascine se for capaz.