Sentir parte 2

Voltar para casa em meio ao silêncio estranho da cidade me fez traçar uma nova perspectiva sobre a minha vida. Tudo parecia igual e ainda assim um tanto quanto diferente. Dez dias fazia tanta diferença. O escuro e o silêncio que encontrei no lar causaram um mal estar. Não físico, era como se eu sentisse um aperto na alma. Tentei, de todas as maneiras, afastar aquele sentimento afinal, eu estava feliz. Cansada, mas feliz. Recorri a televisão para espantar o silêncio, pois já era muito tarde para usar o telefone e a insônia dominou a minha noite. Tentando organizar as idéias, comecei a esvaziar gavetas, o intuito era colocar em ordem, mas a bagunça que ficou não me deixava crer que o objetivo estivesse sendo alcançado. Procurei caixas e me pus a lançar, displicentemente, tudo o que me entulhava o quarto. Lacrei tudo com tanta rapidez que, ao final, nem consegui distinguir se o que sentia era raiva ou felicidade. Sei que me trouxe alívio. Um alívio tão imediato que encaixotei metade dos livros da minha estante, depois comecei a guardar os milhões de DVD’s e me perguntei se eu realmente já havia assistido tudo aquilo um dia. À medida que esvaziava os espaços, sentia que ficava mais leve. Na alma, no corpo, na mente. Larguei tudo e deitei decidida a dormir, porque o relógio não parou para que eu organizasse a minha vida e agora só me restavam poucas horas até o dia clarear e a cidade enfim acordar. Passei a madrugada abrindo espaços para poder respirar melhor, mas agora preciso saber o que fazer para preencher o buraco que abri dentro de mim, que não sei de onde veio ou se vai demorar a cicatrizar.


Quero voltar a sentir....