Páginas


Das postagens do blog

Linhas da minha alma...Linhas de um sonho...Linhas da minha imaginação...

Tudo 100% verdade ou 100% pura imaginação



Translate


Querido Diário,

21.11.12

Olhos....



“Você tem medo de se apaixonar. Medo de sofrer o que não está acostumada. Medo de se 
conhecer e esquecer outra vez. Medo de sacrificar a amizade. Medo de perder a vontade de 
trabalhar, de aguardar que alguma coisa mude de repente, de alterar o trajeto para apressar 
encontros. Medo se o telefone toca, se o telefone não toca. Medo da curiosidade, de ouvir o 
nome dele em qualquer conversa. Medo de inventar desculpa para se ver livre do medo. 
Medo de se sentir observada em excesso, de descobrir que a nudez ainda é pouca perto de 
um olhar insistente. Não suportar ser olhada com esmero e devoção. Nem os anjos, nem 
Deus agüentam uma reza por mais de duas horas. Medo de ser engolida como se fosse 
líquido, de ser beijada como se fosse líquen, de ser tragada como se fosse leve. Você tem 
medo de se apaixonar por si mesma logo agora que tinha desistido de sua vida. Medo de 
enfrentar a infância, o seio que criou para aquecer as mãos quando criança, medo de ser a 
última a vir para a mesa, a última a voltar da rua, a última a chorar. Você tem medo de se 
apaixonar e não prever o que pode sumir, o que pode desaparecer. Medo de se roubar para 
dar a ele, de ser roubada e pedir de volta. Medo de que ele seja um canalha, medo de que 
seja um poeta, medo de que seja amoroso, medo de que seja um pilantra, incerta do que 
realmente quer, talvez todos em um único homem, todos um pouco por dia. Medo do 
imprevisível que foi planejado. Medo de que ele morda os lábios e prove o seu sangue. Você 
tem medo de oferecer o lado mais fraco do corpo. O corpo mais lado da fraqueza. Medo de 
que ele seja o homem certo na hora errada, a hora certa para o homem errado. Medo de se 
ultrapassar e se esperar por anos, até que você antes disso e você depois disso possam se 
coincidir novamente. Medo de largar o tédio, afinal você e o tédio enfim se entendiam. Medo 
de que ele inspire a violência da posse, a violência do egoísmo, que não queira repartir ele 
com mais ninguém, nem com seu passado. Medo de que não queira se repartir com mais 
ninguém, além dele. Medo de que ele seja melhor do que suas respostas, pior do que as suas 
dúvidas. Medo de que ele não seja vulgar para escorraçar mas deliciosamente rude para 
chamar, que ele se vire para não dormir, que ele se acorde ao escutar sua voz. Medo de ser 
sugada como se fosse pólen, soprada como se fosse brasa, recolhida como se fosse paz. Medo 
de ser destruída, aniquilada, devastada e não reclamar da beleza das ruínas. Medo de ser 
antecipada e ficar sem ter o que dizer. Medo de não ser interessante o suficiente para 
prender sua atenção. Medo da independência dele, de sua algazarra, de sua facilidade em 
fazer amigas. Medo de que ele não precise de você. Medo de ser uma brincadeira dele 
quando fala sério ou que banque o sério quando faz uma brincadeira. Medo do cheiro dos 
travesseiros. Medo do cheiro das roupas. Medo do cheiro nos cabelos. Medo de não respirar 
sem recuar. Medo de que o medo de entrar no medo seja maior do que o medo de sair do 
medo. Medo de não ser convincente na cama, persuasiva no silêncio, carente no fôlego. 
Medo de que a alegria seja apreensão, de que o contentamento seja ansiedade. Medo de não 
soltar as pernas das pernas dele. Medo de soltar as pernas das pernas dele. Medo de 
convidá-lo a entrar, medo de deixá-lo ir. Medo da vergonha que vem junto da sinceridade. 
Medo da perfeição que não interessa. Medo de machucar, ferir, agredir para não ser 
machucada, ferida, agredida. Medo de estragar a felicidade por não merecê-la. Medo de não 
mastigar a felicidade por respeito. Medo de passar pela felicidade sem reconhecê-la. Medo 
do cansaço de parecer inteligente quando não há o que opinar. Medo de interromper o que 
recém iniciou, de começar o que terminou. Medo de faltar as aulas e mentir como foram. 
Medo do aniversário sem ele por perto, dos bares e das baladas sem ele por perto, do 
convívio sem alguém para se mostrar. Medo de enlouquecer sozinha. Não há nada mais 
triste do que enlouquecer sozinha. Você tem medo de já estar apaixonada.”

Fabrício Carpinejar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Me fascine se for capaz.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...